Balança Comercial Brasileira 2025: Análise Completa e Perspectivas
Panorama Geral da Balança Comercial em 2025
A balança comercial brasileira tem apresentado desempenho misto ao longo de 2025, com mudanças significativas tanto nas exportações quanto nas importações que refletem o contexto econômico global e doméstico. De acordo com dados mais recentes da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do MDIC, o superávit comercial acumulado de janeiro até a quarta semana de setembro de 2025 atingiu US$ 44,97 bilhões, representando uma queda de 21,7% em comparação com o mesmo período de 2024, quando o saldo positivo foi de US$ 58,70 bilhões.
Este resultado reflete um crescimento moderado das exportações, que totalizaram US$ 255,21 bilhões (alta de 2,2%), combinado com um aumento mais expressivo das importações, que alcançaram US$ 210,23 bilhões (crescimento de 9,4%). A corrente de comércio (soma de exportações e importações) registrou aumento de 5,3%, atingindo US$ 465,44 bilhões no acumulado até setembro, indicando maior volume de transações comerciais do Brasil com o resto do mundo.
Destaques do Desempenho Comercial
No mês de setembro de 2025 (até a 4ª semana), a balança comercial registrou superávit de US$ 2,16 bilhões, uma queda expressiva de 55,4% em relação ao mesmo período de 2024. As exportações cresceram 1,9%, somando US$ 27,62 bilhões, enquanto as importações tiveram alta significativa de 14,3%, totalizando US$ 25,46 bilhões.
Projeções Revisadas para 2025
Em julho, o MDIC revisou substancialmente para baixo suas projeções para o saldo comercial de 2025. A expectativa atual é de um superávit de US$ 50,4 bilhões, uma redução significativa em relação à previsão anterior de US$ 70,2 bilhões e também abaixo do resultado de 2024, que foi de US$ 74,2 bilhões. Se confirmada, essa projeção representaria uma variação negativa de 32% em relação ao ano anterior.

De acordo com Herlon Brandão, diretor do Departamento de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior, “a gente vê uma leve queda de exportações no primeiro semestre, motivadas por preços menores. E o valor é sustentado por volume”. O secretário acrescentou que “a demanda mundial vem se enfraquecendo, isso vem afetando o preço das commodities”, enquanto “a economia brasileira continua crescendo, continua demandando insumos e bens de capital importados, o que deve resultar nesse saldo comercial de US$ 50 bilhões”.
| Indicador | Projeção Inicial | Projeção Revisada (Julho) | Variação |
|---|---|---|---|
| Exportações | 353,1 | 341,9 | -3,2% |
| Importações | 282,9 | 291,5 | +3,0% |
| Saldo Comercial | 70,2 | 50,4 | -28,2% |
| Corrente de Comércio | 636,1 | 633,5 | -0,4% |

Desempenho Setorial das Exportações
Até a quarta semana de setembro, o desempenho das exportações por setor apresentou comportamentos distintos. O setor de agropecuária cresceu 9,2%, somando US$ 5,92 bilhões; a indústria extrativa aumentou 6,4%, alcançando US$ 6,13 bilhões; enquanto a indústria de transformação registrou queda de 2,6%, totalizando US$ 15,31 bilhões.
Principais Produtos de Exportação
Os produtos que mais contribuíram para o crescimento das exportações na agropecuária foram milho (11,3%), café (3,8%) e soja (11,7%). Na indústria extrativa, os destaques foram pedra, areia e cascalho (49,0%), minérios de cobre (3,3%) e óleos brutos de petróleo (16,4%). Já na indústria de transformação, mesmo com a queda geral do setor, houve desempenho positivo em carne bovina (52,9%), veículos de passageiros (34,2%) e ouro não monetário (94,1%).
Por outro lado, alguns produtos registraram quedas significativas nas vendas externas: madeira em bruto (-40,5%), algodão em bruto (-11,6%) e matérias vegetais em bruto (-14,1%) na agropecuária; outros minerais em bruto (-21,0%), minério de ferro (-3,8%) e minérios de alumínio (-52,2%) na indústria extrativa; e açúcares e melaços (-31,6%), celulose (-27,7%) e aeronaves (-27,2%) na indústria de transformação.
Comportamento das Importações por Setor
No lado das importações, até a quarta semana de setembro de 2025, observou-se uma queda de 2,7% na agropecuária (US$ 0,43 bilhão) e uma retração expressiva de 25,7% na indústria extrativa (US$ 1,09 bilhão). Por outro lado, a indústria de transformação registrou crescimento significativo de 17,8%, alcançando US$ 23,81 bilhões.
Importações de Transformação: Fatores Extraordinários
O expressivo crescimento das importações da indústria de transformação foi influenciado especialmente por uma operação específica com plataformas, embarcações e outras estruturas flutuantes, que adicionou US$ 2,375 bilhões à conta – um aumento extraordinário de 15.406% em relação ao mesmo período de 2024. Excluindo este item atípico, o crescimento do setor teria sido mais moderado.
Outros produtos que tiveram aumento significativo nas importações foram medicamentos e produtos farmacêuticos (46,8%) e motores e máquinas não elétricos (63,7%). Esse movimento reflete tanto a recuperação da atividade econômica doméstica quanto investimentos em bens de capital e insumos industriais.
Análise Mensal: Setembro de 2025
Analisando especificamente o mês de setembro até a quarta semana, a balança comercial apresentou desempenho semanal volátil. Na primeira semana, houve superávit de US$ 408 milhões; na segunda semana, saldo positivo de US$ 1,255 bilhão; na terceira semana, superávit de US$ 653,9 milhões; e na quarta semana, déficit de US$ 157,3 milhões.
Considerando as médias diárias, as exportações de setembro cresceram 1,9% (US$ 1,381 bilhão por dia) em comparação com setembro de 2024, enquanto as importações aumentaram 14,3% (US$ 1,273 bilhão por dia). A corrente de comércio registrou expansão de 7,5%, alcançando média diária de US$ 2,654 bilhões.
| Mês | Exportações | Importações | Saldo Comercial | Corrente de Comércio |
|---|---|---|---|---|
| Janeiro | 25.374,0 | 23.066,9 | 2.307,1 | 48.441,0 |
| Fevereiro | 22.743,3 | 23.231,6 | -488,3 | 45.974,8 |
| Março | 28.708,3 | 21.028,7 | 7.679,5 | 49.737,0 |
| Abril | 29.895,4 | 22.271,5 | 7.623,9 | 52.166,9 |
| Maio | 29.934,6 | 22.933,2 | 7.001,4 | 52.867,8 |
| Junho | 28.941,2 | 23.263,4 | 5.677,8 | 52.204,6 |
| Julho | 32.125,3 | 25.247,6 | 6.877,7 | 57.372,9 |
| Agosto | 29.861,1 | 23.727,9 | 6.133,3 | 53.589,0 |
| Setembro* | 27.622,6 | 25.462,8 | 2.159,8 | 53.085,5 |
*Dados até a 4ª semana de setembro
Relações Comerciais Bilaterais
Comércio com Estados Unidos
O mês de agosto trouxe mudanças significativas nas relações comerciais com os Estados Unidos. Pela primeira vez desde março, as exportações para os EUA caíram 18,5%, após quatro meses consecutivos de aumentos. Esse movimento resultou em um déficit comercial de US$ 1,2 bilhão com os EUA em agosto e um déficit acumulado no ano de US$ 3,4 bilhões até agosto.
Esse resultado pode refletir, pelo menos em parte, os efeitos do anúncio de medidas tarifárias por parte do governo norte-americano no final de julho. Enquanto as exportações para os EUA recuaram, as importações norte-americanas desaceleraram, registrando o menor aumento da série, com exceção de maio.
Comércio com China
Em contrapartida ao desempenho com os EUA, as exportações para a China apresentaram crescimento expressivo de 31,0% em agosto, após sucessivas quedas no valor exportado em 2025 (com exceção de março e junho). Esse movimento ajuda a explicar o melhor desempenho da agropecuária nas exportações brasileiras, uma vez que a China é destino significativo para commodities agrícolas brasileiras.
Mudanças no Padrão Comercial
Os resultados de agosto indicam uma possível reorientação nos fluxos comerciais bilaterais do Brasil, com recuperação das vendas para a China e retração nas exportações para os Estados Unidos. Essa dinâmica pode refletir tanto fatores cíclicos quanto mudanças estruturais nas relações comerciais internacionais.
Contexto Macroeconômico e Impactos na Balança Comercial
O desempenho da balança comercial em 2025 ocorre em um contexto macroeconômico caracterizado por crescimento moderado da economia global, com enfraquecimento da demanda internacional afetando os preços de commodities. Conforme observado pelo MDIC, a demanda mundial mais fraca tem impactado negativamente os preços das commodities, enquanto a economia brasileira mantém crescimento, sustentando a demanda por insumos e bens de capital importados.
No primeiro semestre de 2025, a balança comercial registrou superávit de US$ 30,1 bilhões, representando queda de 27,6% em relação ao mesmo período de 2024. Nesse intervalo, as exportações recuaram 0,7%, totalizando US$ 165,87 bilhões, enquanto as importações cresceram 8,3%, alcançando US$ 135,8 bilhões.
Em junho especificamente, a balança comercial registrou superávit de US$ 5,9 bilhões (queda de 6,9%), com corrente de comércio de US$ 52,4 bilhões (crescimento de 2,5%). As exportações aumentaram 1,4% na comparação anual, atingindo US$ 29,15 bilhões, enquanto as importações cresceram 3,8%, totalizando US$ 23,26 bilhões.
Perspectivas e Implicações para Investidores
As projeções revisadas do MDIC para a balança comercial em 2025 indicam um cenário de superávits menores, porém ainda significativos, que devem continuar contribuindo positivamente para o crescimento econômico e para a conta corrente do balanço de pagamentos.
Para investidores, o desempenho da balança comercial traz várias implicações. Setores exportadores, especialmente aqueles com desempenho positivo como agropecuária (com destaque para milho, café e soja) e indústria extrativa (especialmente petróleo e minérios de cobre), podem apresentar oportunidades interessantes. Da mesma forma, empresas voltadas para o mercado interno podem se beneficiar do crescimento das importações de bens de capital e insumos, indicativo de investimentos em capacidade produtiva.
No entanto, é importante monitorar a evolução dos preços das commodities no mercado internacional, assim como o ritmo de crescimento da economia global, fatores que influenciarão diretamente o desempenho futuro das exportações brasileiras.
Indicadores Chave 2025
- Superávit Comercial: US$ 44,97 bi (jan-set)
- Exportações: US$ 255,21 bi (+2,2%)
- Importações: US$ 210,23 bi (+9,4%)
- Corrente de Comércio: US$ 465,44 bi
- Projeção 2025: US$ 50,4 bi
Principais Produtos Exportação
- Soja: +11,7%
- Petróleo Bruto: +16,4%
- Carne Bovina: +52,9%
- Veículos: +34,2%
- Ouro: +94,1%
Fatores de Risco
- Demanda global enfraquecida
- Preços de commodities
- Crescimento das importações
- Relações comerciais EUA
Considerações Finais
A análise da balança comercial brasileira em 2025 revela um cenário de transição, com superávits comerciais ainda expressivos, porém em trajetória de moderada contração devido à combinação de crescimento moderado das exportações e expansão mais vigorosa das importações. Esse padrão reflete tanto fatores externos, como a demanda global mais fraca e preços de commodities em níveis menos favoráveis, quanto fatores domésticos, como a recuperação da atividade econômica e o consequente aumento da demanda por importações.
O desempenho setorial heterogêneo – com destaque positivo para agropecuária e indústria extrativa, e relativa fragilidade na indústria de transformação – merece atenção de formuladores de políticas e investidores. Da mesma forma, as mudanças no padrão de comércio bilateral, com recuperação das exportações para a China e arrefecimento nas vendas para os Estados Unidos, indicam uma dinâmica comercial em transformação.
Para os próximos meses, a evolução da balança comercial dependerá criticamente da trajetória da economia global, dos preços das commodities, do ritmo de crescimento da economia brasileira e da capacidade de competitividade dos produtos nacionais no mercado internacional. A projeção de superávit de US$ 50,4 bilhões para 2025, ainda que revisada para baixo, continua representando uma contribuição positiva significativa para o conjunto do balanço de pagamentos e para a estabilidade macroeconômica do país.
Este resumo não é recomendação de investimento. Consulte seu Advisor.

